Conto: Um Anjo Perdido – Oscar Mendes FIlho

Primeira sexta-feira 13 do ano!! Para celebrar vamos ler o conto do nosso amigo Oscar Mendes Filho.

Um Anjo Perdido

O ar inspirado queimou-lhe os pulmões desavisados.

Sua visão pouco ajudava devido à penumbra que inundava aquele lugar quente e úmido. O calor beirava o insuportável…

Uma floresta tropical? Não, não se tratava do famoso ecossistema e ela pôde verificar isso pelo solo pedregoso que machucava seus pés descalços.

Já havia estado nos quatro cantos do planeta, e em diversos planos do universo, jamais se deparando com um odor tão nauseabundo quanto aquele. Seu estômago revirava.

Estava ainda meio entorpecida e desorientada. Um súbito desespero fez com que lançasse uma das mãos às costas: sim, suas asas ainda estavam lá. Tal constatação lhe trouxe um pouco de tranquilidade, embora o fato de desconhecer aquele lugar muito a intrigasse.

Forçou a visão na esperança de ver alguma coisa e foi capaz de ver apenas um imenso paredão rochoso logo à sua esquerda. Rochas negras que deixavam perceber certa umidade enojante. Tocou-a curiosa e percebeu um viscoso líquido umedecendo sua alva e delicada mão. Era sangue!!

Seu coração bateu descompassado, o medo invadia seu ser. Sua razão lutava com a brutal realidade em que estava inserida.

Forçou os ouvidos da esperança de se guiar através da audição e conseguiu perceber ao longe algo parecido com risadas misturadas a lamentos desesperados. Sons terríveis que só podiam vir de um lugar…

Não podia ser. Como um ser angelical como ela poderia ter ido parar ali? Jamais havia estado em tão nefasto lugar, mas tudo levava a crer que era ele: o Inferno. O reduto dos demônios, das criaturas infernais lideradas por Asmodeu.

Suspirou fundo na esperança de que o ar lhe trouxesse as memórias de volta, mas ele só fez com que seu conteúdo estomacal fosse expelido incontrolavelmente.

Estava enojada de si mesma. Vomitando como um bêbado. Um ser angelical jamais passaria por aquilo. Teria deixado de ser um? As asas ornando suas costas lhe diziam que não, pelo menos ainda não. Olhou para o alto e ensaiou utilizar-se delas para fugir dali, mas o céu que aparentava estar em chamas certamente lhe consumiria o ser em questão de segundos. Não era uma boa ideia.

Olhar perdido e choroso, ela tentava encontrar dentro de suas lembranças alguma pista que explicasse o fato de estar ali, mas apenas imagens confusas se faziam presentes, como um pesadelo terrível.

Olhou ao seu redor. Tudo estava imerso em uma aterrorizante penumbra. Atrás de qualquer rocha alguma criatura demoníaca poderia estar à espreita.

Começou a caminhar de forma lenta e precavida seguindo o paredão rochoso na esperança de encontrar alguma resposta. Seu coração batia forte e sua mente trabalhava ainda desconcertada.

Seus pés iam se ferindo a cada contato que era feito com as rochas ásperas daquele chão quente e úmido, fazendo com que gemidos escapassem de seus lábios. Gemidos emitidos pelos lábios de um anjo: algo antes jamais imaginado.

Caminhou por vários minutos, embrenhada em pensamentos sem nexo e ao mesmo tempo angustiantes e, cabisbaixa, não percebeu a aproximação de um vulto deveras cambaleante que vinha lentamente em sua direção.

– Achaya, é você? – A voz familiar tocou seus ouvidos docemente e a fez abandonar seus pensamentos em meio a uma indescritível alegria.

Erguendo seus olhos lacrimejantes ela pôde ver o vulto ferido de seu amigo Haamiah que trazia nos olhos a dor da desolação.

Haamiah, um dos mais belos anjos, agora trazia em sua face chagas terríveis que expeliam um líquido repulsivo. Suas asas pareciam carcomidas e seu corpo estava sujo e expelindo um fétido odor.

– Graças ao Criador eu a encontrei, minha amiga. Imaginei que apenas eu ainda existisse. Graças…

– Também fico feliz em encontrá-lo. Mas que lugar é esse? O que estamos fazendo aqui? Diga-me, meu amigo, o que houve?

O anjo baixou a cabeça e lágrimas reluzentes escaparam de seus olhos cansados.

– Não se recorda de nada? – Sua voz estava embargada.

O silêncio que se seguiu em meio à ofegante respiração fez desnecessária qualquer resposta.

– Achaya, a guerra contra as criaturas das sombras foi perdida…

Oscar Mendes Filho

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